06 setembro 2009

sangue do meu sangue, por ricardo kauffman.

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Sangue do meu sangue
Como não sou um pai exatamente jovem, tenho 37 anos, tive a oportunidade de conviver com muitos amigos que foram pai antes de mim. Uma das coisas que eles me relatavam é que quando o bebê ainda é muito pequeno, a relação com o pai é um tanto limitada.
Afinal, a mãe dá de mamar. Alimenta o cidadão/cidadã. Ponto final. Qualquer outra função acessória que o homem possa fazer não faz frente a este fato.
Então a coisa é se conformar na posição de coadjuvante – às vezes, figurante – e ter paciência. Mais pra frente, a partir de um seis meses, quando o bebê começa a interagir, o pai participa mais, disseram-me eles.
Com isso, preparei-me para não me assustar com esta condição. E não ficar preocupado caso não me sentisse tão envolvido com a criança, nesta fase, porque daqui a pouco tudo vai rolar naturalmente.
Acontece que não me sinto tão alheio à bebê assim, como eu esperava. Desde que a Gabriela chegou, há exatas duas semanas, sinto que ganhei um afeto muito especial. Adoro segurar a bebê, pô-la para arrotar, carregá-la no colo, acalmá-la quando chora
Pego-me no meio do dia pensando nela, sentindo seu cheiro nas pontas dos meus dedos. Pegar o serzinho no colo, deixá-lo deitado no peito, é muito prazeroso e…interativo! Mesmo que ela não faça distinção entre meu torso e uma almofada – provável – acredito que a Gabriela esteja se habituando à minha presença. Coisa que ela reconhecerá com mais facilidade nas idades futuras – torço por isso!
Do ponto de vista racional, uma coisa que me mobilizou a este respeito foi uma informação simples, mas curiosa para leigos como eu. Minha mulher tem sangue tipo A. Eu, tipo B. A Gabriela tem tipo B.
Quer dizer, ela passou nove meses dentro da minha mulher, trocando tudo o que é conteúdo com ela, e ficou com o meu sangue! Sangue do meu sangue! A minha contribuição – singela, se considerada a quantia de conteúdo, mas valente! – no milagre da geração da criança foi capaz de dar a ela sangue do meu sangue.
Pirei com isso, como vocês podem notar. Ainda mais porque a minha mulher notou que ela tem um furinho na base da orelha igual ao meu. Quer dizer, ficção científica é banal perto disso.
Conclusão: estou todo o orgulhoso de ter a minha filhinha Gabriela. Coisa mais linda do papai.
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Ricardo Kauffman, 36 anos, é jornalista e roteirista em São Paulo. É bem casado com a assessora de imprensa Luciana Branco, 31, e está vivendo as descobertas e curtições de acompanhar a primeira gravidez da mulher. Se a cegonha não adiantar, vai estrear no papel de pai em julho.
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